Por que a podolatria, ou seja, a chamada adoração por pés, é tão popular entre os fetiches dos brasileiros? Talvez você nem imagine, mas resposta para esta pergunta tem origens históricas. É o que garantiu a dominatrix Dommenique Luxor, pioneira na arte da dominação no país e autora do primeiro livro sobre uma dominatrix no Brasil. Durante o oitavo episódio do podcast Acompanhadas, ela afirmou que este desejo tem, inclusive, relação com o período da escravidão e com o racismo estrutural.
“Em primeiro lugar, a podolatria no Brasil só é exercida quando o pé é bem feito, bonito, branco, cuidadinho, com unha bem pintada e que pareça não usar sapatos. Que ele pareça assim. É aquele pezinho pezinho. Não é podolatria, literalmente, não é adoração por pés, é podolatria por um tipo de pé. Por que? Porque na transição do Império para a República e quando os escravos começaram a ser “libertados”, entre mil aspas, a gente diferenciava as pessoas, no cotidiano, andando na rua. A gente diferenciava as pessoas e o poder delas se elas estavam usando sapatos ou não”, contextualizou a convidada. “Tudo tem uma conotação cultural, porque a gente imita relações de poder culturais”, completou.
Ou seja, até mesmo um comportamento sexual tem uma conotação cultural e histórica. De acordo com Dommenique, a imagem de um pé “bem cuidado” remete a uma pessoa que não trabalha, que não precisa caminhar no dia a dia, ou que, quando caminha, possui um calçado para proteger os pés. Em outras palavras, não é um pé de uma pessoa escravizada. “A podolatria no Brasil é muito forte por conta disso, porque se tem como se contrastar literalmente um lugar de poder muito específico com uma pessoa que tem um pé lindo, de uma pessoa que tem um pé mais ou menos.”
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